segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A renovação da Geografia Escolar

Jaime Oliva


A Geografia escolar no período de domínio do modelo clássico era relativamente homogênea, uni autoral, e pode ser sintetizada como um vasto inventário da superfície terrestre, cuja abordagem era uma somatória de recortes, definidos conforme uma regionalização consuetudinária. Tratava-se de uma regionalização que buscava associações e integrações entre os fenômenos da superfície terrestre, o que configurava o chamado quadro natural (o humano pertencia a esse quadro, ou se lhe era dado algo de autonomia, derivava do quadro natural).
Nos anos 1980 inicia-se uma transformação da Geografia escolar brasileira. A primeira onde de renovação revelou a influência do movimento da denominada Geografia Crítica, que por sua vez incorporava narrativas sobre um mundo dividido entre Capitalismo e Socialismo. Assim se regionalizava o mundo, agora articulado e todo interdependente, porém os critérios não partiam do espaço geográfico, ao contrário esse é que resultava de processos tidos como de hierarquia superior.
Outra renovação concorrente aparece na Geografia escolar. Seu método e o seu alvo não são mais derivados de visões regionalizantes. O eixo que orienta o percurso programático é o espaço geográfico, mais propriamente o entendimento que esse espaço é uma dimensão constituinte e construtora do todo social. Mas, essa função constituinte não é isolada e unilateral, ao contrário compõe um conjunto movido pela complexidade.
A Geografia escolar contemporânea por vezes combina, de modo nem sempre consciente por parte de seus autores, elementos das três possibilidades indicadas. As combinações dificilmente resultam em conjuntos coerentes, algo mascarado pela insistência da cultura escolar em Geografia em recusar discussões teóricas (que não precisam ser diretamente conteúdos para os estudantes).
De todo modo pode ser afirmado que a Geografia escolar ao incorporar essas “duas renovações” melhorou seu nível e com isso ganhou recursos para ir desfazendo a imagem folclórica dessa disciplina sempre ridicularizada como a área marcada por conhecimentos inúteis, meramente decorativos (em dois sentidos).
O potencial da renovação que investe em narrativas das realidades com um olhar a partir da dinâmica espacial tem se revelado frutífero. Por meio dele várias dimensões da realidade social vêm sendo relidas: o Estado, a Técnica, a Cultura, a Natureza, a Cidade e o Urbano, o Rural, a Política, a Geopolítica, o Mundo, a Região...

Nenhum comentário: